Com a inflação em alta, cada vez menos alimentos cabem no Bolsa Família. Desde a sua criação, em outubro de 2003, o Benefício Básico foi reajustado em 40%. Nesse mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — que mede a inflação para quem ganha até cinco salários mínimos — acumulou alta de 52,03%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, descontando a inflação do aumento do benefício, houve perda real de 12,03%.
Só o Benefício Variável, pago a grávidas, mulheres que amamentam e crianças até 15 anos, teve reajuste acima da inflação (113%), que, no entanto, quase foi anulado pela alta da cesta básica no Rio, por exemplo, que encareceu 107% desde novembro de 2003, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese).
Beneficiários ouvidos pelo EXTRA contaram que, hoje, saem dos supermercados com menos produtos do que há alguns anos. Em Duque de Caxias, a dona de casa Claudia Simone Soares, de 37 anos, reclama do aumento nos preços do leite, do arroz e das fraldas, que precisa comprar para o filho caçula.
— E não é sempre que temos carne para comer — contou Claudia, que tem oito filhos e recebe R$ 102 do governo.
A faxineira, Vanderleia medeiros, de 34 anos, se vira como pode para conseguir alimentar os três filhos. Ela sustenta as crianças sozinha, em Piabetá, distrito de Magé, desde que o marido a abandonou, há dois anos.
— Hoje o botijão de gás está a R$ 40. Antigamente, eu comprava por R$ 30. Todo mês, os preços das coisas aumentam. Meu benefício é R$ 260. Recebi ontem, e já acabou tudo. No fim do mês, quando estou sem dinheiro, tenho que comprar cesta básica fiada de um rapaz que vende de casa em casa — relatou Vanderleia.
Em março, o governo federal passou a pagar um complemento para 2,5 milhões dos 16 milhões de beneficiários. O valor, que é variável, é pago a famílias que, até então, viviam com menos de R$ 70 mensais por pessoa, seja só de benefício ou da soma do benefício com a renda.
Para o governo, bolsa cresceu
O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, defende que o valor do Bolsa Família aumentou, devido aos recentes complementos dados pelo governo para que a renda por pessoa não seja menor do que R$ 70. O próprio Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no entanto, não considera as medidas como reajustes.
— Houve crescimento de 15,61% em termos reais (descontada a inflação). Se você pegar o caso de uma mulher sem crianças, o benefício caiu. Mas isso é uma exceção. O bolsa família é a fonte de renda que mais cresce no país — afirmou Neri.
Economistas: há perda
Segundo o economista Marcel Guedes Leite, da PUC-SP, o governo precisa rever os valores dos benefícios.
— O Bolsa Família precisa, sim, acompanhar o impacto inflacionário. Afinal, o objetivo é melhorar a renda.
Para o professor de Economia do Ibmec Mauro Rochlin, houve uma redução do valor real do benefício.
— Os reajustes concedidos não impediram isso.
Fonte: Jornal O Globo
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